"Mvsa mihi cavsas memora"

terça-feira, 28 de junho de 2011

Caio Valério Catulo
Meu pobre Catulo põe um termo neste delirar
e considera perdido o que vês que se perdeu.
Em tempos passados sóis luminosos brilharam
quanto tu, constantemente, corrias
para onde te chamava a jovem por nós tão amada
quanto nenhuma outra será jamais amada.
Nestes encontros então aconteciam aqueles
inumeráveis momentos de prazer: o que tu querias
a jovem também não o deixava de querer.
Sóis luminosos realmente brilharam para ti.
Hoje, porem, ela já não quer mais.
Também tu, incapaz de te conteres, não queiras mais,
não persigas aquela que te foge, não vivas infeliz,
mas conserva inflexível teu espírito, resiste.
Adeus, minha jovem amiga, Catulo já resiste,
não mais irá te procurar, não mais te convidará
a um encontro, se não o desejares.
Mas tu chorarás quando não mais fores solicitada
Ai de ti, infeliz. Que vida te está reservada?
Que homem irá ter contigo?
A quem parecerás bela? Agora a quem amarás?
A quem dirão que pertences? A quem beijarás?
De quem morderás os lábios?
Mas tu Catulo, resiste.


Catulo neste poema parece conversar com sua própria consciência, relembrando o passado de amor que a jovem lhe proporcionou, um passado que o próprio não faz questão de esquecer, ou melhor, apagar de sua memória. Podemos dizer que o centro do poema é o “tempo”, pois é o que nos remete ao passado, ao presente e ao futuro; o poeta vê nesse tempo todas as coisas que ele realizou no passado e que deixou saudades, como o seu amor pela jovem, porem o mesmo tem medo do futuro do que pode acontecer com o amor que ele sente por essa jovem, pois ela no passado rejeitou o seu amor e agora no presente é ele que o rejeita, temendo que no futuro isso possa ocorrer novamente.
Em Paul Veyne vemos que este tipo de poesia seria artificial, pois a poesia antiga não era ousada, a mesma por sua vez não ia mais longe do que reduplicação em eco, estes tipos de poesia falava-se só da paixão, digamos que como uma fantasia e não das tempestades que essas nos trazem. A modernidade oi que estragou o nosso gosto pela poesia antiga, pois é preciso um poema, ossudo, ousado, em que se percebe a veracidade, por exemplo, de uma paixão, tudo isso nos levou a achar ou até mesmo a ter convicção de que a poesia antiga nos causa tédio.

 
Serenata (Cecília Meireles)

" ... Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo ... "

 
Neste poema Cecília Meireles, o eu lírico pede permissão para fechar os olhos, vemos neste poema uma espécie de despedida. Ao que nos parece é que o eu lírico está em seu leito de morte se despedindo da pessoa amada.
Em Catulo vemos o amor que já se perdeu e ele ainda insiste a principio em recuperá-lo; essa paixão já em Cecília Meireles chega a deixar o eu lírico triste ao ter que deixar de viver esse amor e seguir sozinha. Esta poesia moderna segundo as teorias de Paul Veyne seria não artificial porque nos fala fortemente.
Há nessa poesia uma característica marcante da poesia moderna, onde não mais palavras que se escutam mais emoções que se sente; nisto consiste a grande revolução do estilo moderno. Como vimos os autores modernos são intensos, logo são mais sinceros.

                                                              (Victor Gonçalves Balbino)

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