"Mvsa mihi cavsas memora"

quinta-feira, 30 de junho de 2011

8(Caio Valério Catulo)
Meu pobre Catulo, põe um termo neste delirar
E considera perdido o que vês que se perdeu.
Em tempos passados sóis luminosos brilharam
Quando tu, constantemente, corrias
Para onde te chamava a jovem por nós tão amada
Quanto nenhuma outra será jamais amada.
Nestes encontros então aconteciam aqueles
Inumeráveis momentos de prazer: o que tu querias
A jovem também não o deixava de querer.
Sóis luminosos realmente brilharam para ti.
Hoje, porém, ela já não te quer mais.
Também tu, incapaz de te conteres, não queiras mais,
Não persigas aquela que te foge, não vivas infeliz,
Mas conserva inflexível teu espírito, resiste.
Adeus, minha jovem amiga, Catulo já resiste,
Não mais irá te procurar, não mais te convidará
A um encontro, se não o desejares.
Mas tu chorarás quando não mais fores solicitada.
Ai de ti, infeliz. Que vida te está reservada?
Que homem irá ter contigo?
A quem parecerás bela? Agora a quem amarás?
A quem dirão que pertences? A quem beijarás?
De quem morderás os lábios?
Mas tu, Catulo, resiste.



Do amoroso esquecimento
(Mário Quintana)

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?


Na obra de Catulo, observa-se uma auto reflexão. O eu – lírico tenta se convencer de que não mais amará a mulher que o rejeitou, e a todo o momento relembra acontecimentos passados a fim de comprovar a sua resistência aos encantos da mulher amada. Na passagem abaixo, Catulo se mostra um tanto quanto recalcado em relação ao futuro da mulher que perdeu:

A quem dirão que pertences? A quem beijarás?
De quem morderás os lábios?
Mas tu, Catulo, resiste.”

Segundo Paul Vayne as poesias antigas não nos causam emoções, por não conterem ostentação de imagens. O contrário acontece na poesia moderna, pois os autores modernos se valem da estética da intensidade, que seria justamente a ostentação de imagens, e é através dela nos é transmitida a emoção, a sinceridade e a veracidade que um poema carrega. William Cowper resume: "não são mais palavras que se escuta, mas emoções que se sente"
Vayne também diz que os poetas contemporâneos renunciam à clareza, ou seja, não sem empenham em compor um poema de fácil compreensão, pois acreditam que ao escreverem algo de fácil entendimento estarão comprometendo a intensidade da obra.
Mario Quintana em seu poema declara o fim de um relacionamento, assim como Catulo. O diálogo é estabelecido em função da incerteza, ambos precisam esquecer um amor, mas entre os dois paira a vontade de permanecer amando. Tal semelhança é claramente percebida nos seguintes versos:
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?”

Nesta poesia, as características que Veyne dá a um poema moderno estão implícitas no silêncio do autor. A emoção aparentemente contida é justamente o que dá sinceridade às palavras de Quintana, que por sua vez, não se preocupa com a compreensão do leitor e sim com
a expressão do seu sentimento. O mesmo não ocorre no poema de Catulo, que retoma fatos com o fim de fazer o leitor entender como ele está sofrendo. Este sofrimento aparente nos proporciona uma compreensão mais clara do que se passa na poesia de Catulo.
Por fim, Paul Vayne nos leva a constatar com mais propriedade as diferenças estruturais em uma poesia antiga e em uma contemporânea, por mais que haja como ponto em comum a temática amorosa.

                                                                        (Nathália Carvalho)

Um comentário:

  1. O diálogo entre os dois poemas foi de extrema relevância e clareza para quem o lê. A explicitação teórica não poderia ter sido melhor.
    Porém, creio que tenha faltado tratar mais um pouco sobre o que cada poema fala em si. Você só abordou o tema principal e não mostrou a intensidade contida no poema de Catulo como em "Mas tu, Catulo, resiste."
    Portanto defino como teoricamente perfeito, mas deixou um pouco a desejar no diálogo total entre as poesias.

    Thiago Sabb Waghabi

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