"Mvsa mihi cavsas memora"

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Caio Valério Catulo
ODEIO E AMO

Odeio e amo. Perguntarás como isso possa ser.
Não sei, mas sinto-o, e é um tormento.
é como um vazio devorador
um simples toque de luz encantador
não vejo nada
de tanto
iluminar, abdicar, dar, amar, ofuscar o sublime
com a sua própria face – só a luz.
[ Há noites em que as estrelas mudam
Sorrateiramente de lugar, fazendo desvios
rápidos. Escrevem no céu traços de luz que
só devem ser vistos por uma pessoa
de cada vez.]
Calor que aleija ao andar na ilusão
A luz que ainda não me deixa ver!
é preciso fechar os olhos para criar a pálida alma só
no deserto, caminhando entretida a contar os grãos de areia
impedindo a noite de se fazer negra e fria. “

Essa idéia de contradição entre o amor e o ódio inserida da poesia, seja pelo amor seja pela dor...
Tanto o poema de Catulo quanto o poema de Drummond vão tratar do amor exagerado, num aspecto intenso. O poema de Catulo trata de uma dualidade entre os sentimentos, e poema de Drummond o amor sem mais medidas é como algo que se dá, o amor para os poetas
modernos serão uma experiência muito importante. Os dois poemas tratam o sentimento como algo profundo.
Segundo Veyne, o gosto pela intensidade nos poetas modernos garante a autenticidade, faz do poema algo mais sincero, e ainda afirma que a poesia antiga nos causa tédio.
Os poemas modernos procuram buscar conceitos referentes à estética da intensidade, causando um impacto no leitor, buscando a originalidade.
No trecho abaixo vamos retratar sobre isso:
Eu te amo porque te amo...”
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Nesse trecho do poema de Drummond, percebemos a idéia de que o amor é algo que se dá de forma sucinta, não tem explicação...
Paul Veyne afirma que a poesia nos últimos séculos está vinculada a uma intensa ostentação de imagens, onde as emoções intensas são traduzidas por imagens, como a revolução da sensibilidade na profundidade.
Essa profundidade se explica pela renúncia à clareza o autor, ele não tem mais necessidade de deixar totalmente claro a sua idéia. Essa é proposta. Tornando o poema assim mais intenso. O amor passa a ser apreciado por si mesmo e não pelo seu objeto. Mas no poema de Drummond vemos um amor exagerado, algo que foge de qualquer regulamento.
É o que podemos ver no poema de Drummond:

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
Jaqueline Rocha

2 comentários:

  1. Nos dois poemas vemos a questão da ambiguidade que ainda persiste nos poemas modernos. E a intensidade da paixão a relação de amor e ódio que há em uma paixão; o que seria do amor sem o ódio? Podemos dizer que parcialmente uma coisa leva a outra.
    Como vemos em Paul Veyne nossa estética tão particular estragou-nos o paladar para quase todo a poesia antiga... é preciso um poema como o de Drumond para podermos enxerga hoje como a paixão é avassaladora pois para nós os "modernos" o poema de Catulo nos soa como um poema "velho".
    Victor Gonçalves

    ResponderExcluir
  2. CATULO SE UTILIZA DA DUPLICIDADE DE SENTIMENTOS EM SUA POESIA COMO UMA ARMA, PARA CAUSAR UM ESTADO DE RÉS A SUBLIME, POR VEZES NUMA MESMA INSTÂNCIA TEXTUAL.O POETA DARDEJA MANIACAMENTE POR TODOS OS PÓLOS DE SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA.CARLOS DRUMOND,O MAIOR POETA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO, LIVRE DE PRECONCEITOS, ACENTUA A TEMÁTICA AMOROSA NUM LIRISMO CONTIDO.
    DÓRIS DE C. MONTEIRO

    ResponderExcluir

Agora é com você: