"Mvsa mihi cavsas memora"

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

No poema de Vinicius de Moraes ele se mostra fiel aos seus sentimentos e muito zeloso em relação ao amor que sente. O eu-lírico demonstra seu encanto por esse amor e deseja viver cada momento intensamente espalhando seu canto, riso ou pranto em função das emoções que esse amor lhe traz. Ele demonstra que independente de sua amada está feliz ou triste ele também estará. No fim do poema Vinicius de Moraes usa um paradoxo:

Mas que seja infinito enquanto dure.”

Significa que não importa se seu amor  durará dois dias, dois meses ou dois anos, o que prevalecerá será o desejo do eu-lírico de que seja vivido intensamente a tal ponto que pareça eterno.

     109
                            Minha vida!, me dizes que este nosso amor
                           será feliz aos dois, será eterno.
                          Deuses grandes, fazei que prometa a verdade,
                           que sincera e de coração o diga
                         e que nos seja dado, a vida inteira, sempre
                        este pacto viver de amor sagrado.
                                                                              (1-6, Catulo)

Catulo quer viver um amor eterno, ele pede aos deuses que possa viver esse amor, pede felicidade e que sua amada seja sincera em relação aos sentimentos. No final de seus versos pede que possa viver a vida inteira esse amor sagrado.
  Os dois poemas demonstram o desejo de viver um amor duradouro. No poema de Vinicius de Moraes ele pede que seja infinito enquanto dure, ele deixa claro que viverá cada momento intensamente.  Não importa quanto tempo dure será vivido cada momento como único.
Diferentemente de Catulo que deseja que seu amor não tenha fim, que dure pra vida inteira.
No versos de Catulo encontramos pouca intensidade nos sentimentos, uma descrição bem superficial de seus sentimentos.

No “Soneto de fidelidade” o eu-lírico descreve cada emoção com muita sinceridade e muito amor, seu ultimo verso é um exemplo de muita intensidade:
Mas que seja infinito enquanto dure.”
Podemos perceber a estética da intensidade nesse paradoxo que tem como intuito intensificar os sentimentos e produzir um efeito de sinceridade.

 Embora a intensidade não acrescente nada à verdade do texto, ainda assim, garante autenticidade porque ao intensificar, produz efeito de sinceridade.”
A estética da intensidade é acompanhada pela pragmática da sinceridade e destas sai a conceitualização moderna do talento como originalidade.

(Paul Veyne)

                                                                       (Mary Jane Hilário da Silva)

4 comentários:

  1. Vinicius de Moraes, em seu poema, preza pela intensidade do amor. Já Catulo, preza pela sua duração. Os dois poemas falam de amor, mas sob perspectivas bem diferentes. Catulo nos apresenta um amor dependente, não-realizável por si só. Em Vinicius, percebe-se que seu amor é amar.
    Como exposto por Mary Jane, no poema de Catulo, observa-se um amor mais comedido, pois o objetivo do poeta é tornar perfeita a sua forma poética e não a transmissão da sua mensagem amorosa. Diferentemente do que ocorre com o poema de Vinicius, que se insere em uma tradição em que a forma não é tão prestigiada e sim a exploração dos seus sentimentos.
    Assim como postulado por Paul Veyne:

    "Tal é, pois, a tríplice verdade da arte e da literatura modernas: ver mais amplamente, fazer mais fortemente, ir mais longe na beleza e na realidade."
    (A elegia erótica romana, p.271)

    Vinicius expõe a intensidade de seu amor, e por isso é considerado autêntico. O poeta, dessa forma, é mais ligado à realidade do que o poeta latino, que idealiza o seu amor na mulher amada.

    A sensibilidade de Vinicius de Moraes pode ser comprovada neste video, disponibilizado no site youtube:
    http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc

    André França Rocha Borba

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  2. É interessante observar como o amor pode ser retratado, a princípio, de formas tão semelhantes. Vinícius declara amar, mas para ele esse amor não precisa ser eterno; já Catulo deseja que seu relacionamento dure para sempre. Vinícius de Morais é intenso, sincero, em suas declarações. Catulo é, de certa forma, tão objetivo que não parece de fato sentir o que declara. (MICHELLE NASCIMENTO)

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  3. Mostra claramente a diferença entre o estilo literário, especificamente da lírica antiga da moderna, presente no texto de Paul Paul Verny.
    A subjetividade se faz muito presente nos poemas de Catulo 109 e do Vinicius de Moraes em Soneto da felicidade, na qual a presença do eu – lírico é marcada com uma relativa autonomia em relação a realidade.
    Podemos perceber claramente a marca de um intenso amor, expressado pela palavra eterna, nos dois poemas. Porém o eu-lírico de Vinicius de Moraes se mostra mais intensos a exposição dos seus sentimentos, buscando uma reciprocidade. Perdendo assim, sua autonomia.
    Já o eu-lírico do Catulo mostra pouca intensidade, bem característicos da poesia clássica que o sujeito não podia ultrapassar seus próprios limites, pois a perda da autonomia não era desejada.

    Bianca P. de Sant'Anna

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  4. No “soneto de fidelidade” o eu-lírico se interessa pela intensidade que se vive o amor, ao aproveitamento de cada momento. A descrença da eternidade do sentimento aparece claro no verso “Eu possa me dizer do amor (que tive)” e se confirma em “ Mas que seja eterno enquanto dure”. No poema de Catulo se manifesta maior desejo na eternidade do amor, tanto que há um pedido de ajuda para os deuses.
    Achei curioso,embora não tenha nada a ver com a matéria,que o poema “soneto de fidelidade” teria a ver com a quantidade de relacionamentos que Vinícius teve durante toda a sua vida...

    (Jessica Ohana da S.)

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